Saturday 13 November 2010

Olhem que bela estória sobre Alonso.....! ! !

13/11 - 17:05

Tarso vê estrela em 'filho' Alonso e conta fato de assombração em castelo
Especial do Grande Prêmio 'Meu companheiro campeão' traz o relato de Tarso Marques sobre Fernando Alonso, que foi seu companheiro na Minardi

TARSO MARQUES

O Fernando sempre foi um piloto que aprendeu tudo muito rápido. Sempre foi muito maduro. Mesmo no início, às vezes, parecia que ele já tinha muito tempo de F1. Era muito inteligente e, como todo o grande campeão, sempre teve muita sorte. E sempre foi muito confiante.

Eu mesmo corri com vários bons pilotos na mesma equipe. Na F3000, eu andei com (David) Coulthard, na F1, andei com Giancarlo Fisichella, com Jarno Trulli, com o próprio Mark Webber. Dentre esses, o Alonso é disparado o melhor.

No automobilismo europeu, nas categorias de acesso à F1, não existe muita amizade entre os pilotos. Ou seja, o companheiro de equipe é sempre o primeiro que temos de derrotar. E a verdade é essa, porque é o cara que tem um equipamento igual ao seu. Por isso que quem fica na frente, leva vantagem logo de cara. Eu nunca fui muito de falar com os outros caras. Não sou o cara mais político, mais simpático do mundo, mas é porque sempre procurei ser o mais focado possível. E o Fernando, por incrível que pareça, foi o cara que com quem eu tive um bom relacionamento, dos melhores. E quem mais eu me dei bem na F1.

Algumas pessoas me falam: ‘Nossa, mas o cara é insuportável.’ E a minha resposta é sempre a mesma: ‘Não é. Ou então não é o mesmo cara que conheço. O cara que conheço é bem diferente disso.’ E ele, na verdade, era até um pouco parecido comigo. Muito reservado, até por causa da timidez mesmo, concentrado e que não gostava muito de conversa. E como passamos aquele ano inteiro juntos, por causa dos treinos e das corridas, a gente se dava muito bem mesmo. Às vezes, em dias de folga, a gente acabava indo aos mesmos lugares. E o pessoal brincava dentro da equipe: ‘É seu filho agora’. Porque tudo que eu fazia, ele também fazia. Tínhamos o mesmo preparador físico. Então, se eu dissesse que não ia para academia ou se ia dobrar o ritmo dos treinos, ele ficava e fazia igual. Por isso, a gente se dava muito bem.

Na época, o empresário do Alonso era o Adrián Campos, que gostava muito de mim. E ele sempre dizia que eu era um dos únicos pilotos que o Fernando gostava e respeitava. É claro que nem sempre tivemos o mesmo carro, porque ele era o piloto que levava os patrocínios, então muitas vezes a prioridade era para ele. Mas também existiram oportunidades que corremos com o mesmo equipamento.

Getty Images
A apresentação da Minardi há quase 10 anos, com Fernando Alonso e Tarso Marques


O Adrián também falava que o Alonso não respeitava ninguém, achava que ninguém dava conta, mas que ele me respeitava. Nós tínhamos um relacionamento fantástico. No começo, ele não tinha um conhecimento técnico do carro, porque ele teve uma carreira muito rápida até chegar à F1, mas tinha um talento incrível. Então, ele se adaptava muito fácil aos problemas do carro. Por exemplo, se o carro sai muito de frente ou de traseira, tem piloto que simplesmente não consegue andar com o carro. E ele não. Ele mudava o jeito de pilotar e andava rápido em qualquer situação.

As reuniões de equipe eram muito engraçadas. A gente acabava um treino ou mesmo a corrida e ia para a reunião com os engenheiros. E eles perguntavam: ‘E o carro, Fernando?’. Ele respondia: ‘Acho que está bom’. ‘Mas o que tem para fazer?’ E aí ele sempre pedia para começar com o meu carro. Ele dizia: ‘Melhor começar pelo carro do Tarso’. Então, eu falava: ‘Vamos fazer isso e aquilo’. Ele sempre concordava: ‘Ah, faz igual e vamos lá.’ Quer dizer, ele tinha tanto talento que compensava.

No início, era a velocidade que mais chamava atenção nele. O negócio de aprender muito rápido também era um ponto forte do Fernando. É difícil você encontrar pilotos assim. O (Jarno) Trulli, por exemplo, tinha extrema dificuldade de aprender pista. Tinha de andar uns três dias para ele aprender a pista. Eu dava três ou quatro voltas e já conseguia tempos rápidos. Mas o Alonso foi o primeiro que vi que saía, dava pouquíssimas voltas e já virava tempos muito rápidos.

Quando saí da Minardi, eu dizia: ‘Esse cara é bom. Quando ele sentar um carro competitivo, vai dar trabalho’. No final de 2001, nem ele e nem eu tivemos resultados, claro. Então, eu fui para os EUA, mas ele ficou. E ia ficar sem correr. Mas a Renault acabou chamando o Fernando para um teste. Logo depois do teste, ele me ligou: ‘Cara, a gente nunca andou em um carro de F1. Isso aqui é muito fácil. Você não está entendendo. A gente se mata para andar naquela carroça e hoje eu fui o mais rápido do dia’, assim, brincando, dando risada. ‘É muito mais fácil do que aquilo que fazíamos.’ Depois disso, ele assinou com a Renault, ficou de piloto de testes um ano e aí virou titular. A partir de então todo mundo já sabe o que aconteceu. Ele aprendeu muito, teve todo um suporte e agora está em uma equipe grande. Além disso, ele tem uma coisa que todo o campeão tem de ter, que é estrela. Nunca vi um cara com tanta sorte como ele. Tudo dá certo. E faz parte. Todo campeão tem de ter isso.

Hoje em dia ainda temos um bom relacionamento. Fazia um ano que não falava com ele, mas fui a Interlagos e fiquei lá o tempo inteiro com ele. Fiquei nos boxes e participei, inclusive, de uma das reuniões antes da corrida com ele. Quando ele me viu lá, correu, me abraçou, assim, como se fosse irmão mesmo, com carinho mesmo, e não deixou sair dos boxes.

E temos algumas histórias. No começo, na Minardi, ele era muito jovem. Uma vez, fomos ficar na casa do Paul Stoddart, que era o dono da Minardi e que gostava muito da gente. Na verdade, era um castelo, que todos diziam que era mal-assombrado, tinha um cemitério antigo, que fazia barulho à noite e que as pessoas vinham espíritos, essas coisas de filme, sabe. Eu lembro que a gente foi dormir, os quartos eram no terceiro andar da casa, e eu fiquei em um quarto e ele em outro, e tinha um corredor enorme de madeira. Eu fiquei em uma ponta e ele na outra. Sei que, no meio da noite, a gente ouviu um barulho. Então, eu abri a porta do quarto e o vi. Aí, ele veio correndo, entrou no meu quarto e disse que ia dormir lá comigo. ‘Vai para lá, que não vou dormir sozinho aqui, não’. E eu falei: ‘Você está louco, é?’. ‘Não vou dormir lá, não. Não vou dormir sozinho nesta casa. Eu ouvi gente andando no corredor. Vou dormir aqui com você e não me interessa o que vão falar.’

Aí eu disse que não ia ficar com ele no quarto e a gente acabou descendo para o primeiro andar. E acabamos vendo corrida até. Depois, o Paul acordou de madrugada e foi ver o que estava acontecendo. Aí ele perguntou: ‘Estão vendo televisão, não é? Por acaso, ouviram a menininha andar pela casa?’ E aí foi que o Alonso disse: ‘Agora que não vou dormir sozinho de jeito nenhum mesmo nesta casa.’ E acabou dormindo mesmo no meu quarto.

Sobre o título, não só estou torcendo por ele, como acho que ele merece vencer. Na verdade, mais do que ele estar na frente, vencendo, os dois da Red Bull estão perdendo. Impressionante o trabalho da equipe, o carro que foi feito e os caras não estão dando conta. Se fosse o Alonso, na minha opinião, já teria conquistado o título.

Eu também tenho muita simpatia por Fernando Alonso e também acho tudo isso que Tarso Marques falou ..Alonso é inteligente,educado,amigo fiel ...
por Lionel de Campos Jorge

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